AQUI JAZ UM SUICÍDA
Fui gerado como uma criança
desejada e num ambiente fraterno e de alegria. Vivi sempre numa família normal,
com altos e baixos, momentos esses que sem querer, sem perceber, sem doer,
construíram uma identidade, que aos poucos fui perceber que era um ambiente de
fragilidade. Sempre vivi aprendendo a disfarçar os medos e os terrores de minha
alma, a final, quem me ouviria? Quem gastaria tempo comigo? Sempre vi todos
correndo ao meu redor, sempre com a desculpa de que estavam preparando o melhor
para mim, mas nunca o vi, nunca se quer, percebi que estava próximo de mim, o
melhor. De uma vida comum, passei a perceber muitos ambientes que nunca
consegui resolver. Dentro e fora de casa a solidão tomou o meu coração e a vida
passou a ser dor sobre dor. Minha esperança era de que no amanhã passaria por
mais solidão, e quanto mais solidão mais dor, e quanto mais dor, mais esperança
de que amanhã não seria diferente. Aprendi a viver intensamente os momentos,
poucos, mais reais, de alegria. Curtia até perceber que a solidão, como minha
grande companheira estava me esperando. Nunca imaginei que sentimentos como a
depressão, a síndrome do pânico, e a desconfiança das pessoas, poderiam me
afetar. Não me preparei para encarar a realidade, mas tudo ao meu redor foi se
tornando escuro, sem brilho, sem vida, sem tudo. Percebi que minhas conquistas,
e os esforços das pessoas ao meu redor, apenas justificavam a correria, mas
nunca sinalizaram a minha razão de viver. Neste ambiente passei a ouvir uma voz
que dizia que a solução para a minha história seria a morte. Apesar de nunca
assumir que esse pensamento poderia se tornar realidade, essa voz não saia da
minha cabeça. A cada dia de dor sem explicação; a cada dia de luto sem morte; a
cada dia de vida sem vida; a cada frustração e derrota; a cada momento de
alegria sem alegria, eu fui percebendo que aquele sentimento passou a ser mais
próximo de mim do que a solidão, minha grande parceira. Enquanto todos estavam
ocupados com suas vaidades, nutridos de conselhos baseados na superação deste
sentimento com apenas festas e sorrisos amarelos, eu passei a desejar a morte
como uma solução. No fundo eu sabia que ela estava mais próxima de mim do que
imaginava.
Um dia alguém me viu. Percebi que
aquela pessoa me via de maneira diferente, porque o seu tempo estava a minha
disposição. No começo achei que era mais um daqueles que queriam apenas falar,
falar, falar e nunca de fato, me ouvir. Mas sua insistência e seu cuidado foram
me mostrando que aquele envolvimento era verdadeiro e sinalizava algo que nunca
tinha visto antes. Mal sabia eu que uma virada estava preparada para a minha
vida. Aquela amizade foi crescendo e pude me abrir. Encontrei um lugar seguro
para chorar e dessa amizade conheci a Jesus Cristo, como dono de um amor sem
tamanho, sem cor, sem correrias, sem vaidades. Um amor que contagiou o meu ser.
De repente comecei a perceber que tudo que era escuro e sem brilho, passou a
fazer sentido, o sorriso não saia dos meus lábios e todas as vezes que eu
gritava por socorro, sem demora, ouvia uma voz de que dizia: “Não temas, eu
estou contigo”. Então, tomei uma decisão de minha vida radicalmente. Desejei do
fundo do meu coração viver uma virada e fazer Daquele vinculo com Jesus, algo
que desse sentido aos meus dias. Hoje vivo em outro padrão e sonho em gastar
tempo ouvindo as pessoas ao meu redor, antes de ditar regrinhas de sucesso,
passei a amá-las e a partir daí cravei no meu coração e em minha vida a frase:
“aqui jaz um suicida”.
(Texto produzido por @prjotinha ao #virada, Encontro de Jovens realizado em Votuporanga com o tema: Suicídio, no dia 30 de Agosto de 2014 - realizado pelo Ministério Dependo de Ti, Igreja Metodista e várias igrejas da Cidade, além de muitos convidados especiais) #napegada
By @prjotinha